Pontes digitais para ligar gerações

30-08-2017

Pontes digitais para ligar gerações

O processo de transformação digital em curso está a mudar sociedades e países, mas também, na sua base, as relações interpessoais.

O processo de transformação digital em curso está a mudar sociedades e países, mas também, na sua base, as relações interpessoais. A Internet tornou-se, aos dias de hoje, um valor adquirido nas sociedades, como o acesso à eletricidade e água, levando ao estabelecimento de novas formas de comunicar, estudar, trabalhar, comprar e até mesmo de empresas e indivíduos se relacionarem com o Estado. Como todos os processos de mudança acelerada, existem sempre os que adotam de forma rápida a novidade das novas tecnologias e serviços, os que apenas começam quando é uma mudança consolidada e aqueles que, por desconhecimento, desinteresse ou incapacidade de lidar com os novos paradigmas, ficam para trás. Estes últimos colocam um desafio social significativo, porque a transição para o digital implica que uma componente crescente dos processos estejam apenas disponíveis online, dos serviços públicos à informação e à faturação por via eletrónica.

Também ao nível das relações pessoais esta realidade tem vindo a reforçar-se, com as
gerações mais jovens a recorrerem como base da comunicação a plataformas de comunicação online, estabelecendo uma diferença face às gerações anteriores. As mudanças ocorrem também na forma como se acede à informação, sendo que a geração millenial, a primeira geração a viver num mundo inteiramente digital, utiliza muito pouco a televisão, e consome muito mais séries e programas em formato online, no computador ou no telemóvel. Por comparação, a geração seguinte, a denominada Geração Z, é realmente a primeira geração a nascer num mundo inteiramente digital. Estas rápidas mudanças colocam um desafio, a nível das sociedades, mas também das organizações, porque diferentes gerações também têm profundas diferenças na sua abordagem ao trabalho e à forma como se relacionam.


Este é um problema global das sociedades desenvolvidas. Segundo um recente estudo do Pew Research Center, dois terços dos norte-americanos com mais de 65 anos já utiliza
regularmente a Internet e mais de 40% já dispõe de um smartphone, um dispositivo inteligente e que é uma forma acessível de entrada no mundo digital. Por outro lado, na Europa o número de pessoas com idades entre os 65 e os 80 deverá aumentar aproximadamente 40% até 2030, segundo estudos da União Europeia, e estes irão viver num mundo interligado, em que as tecnologias de informação irão definir os canais e formatos em que vamos interagir em tudo, e em que conceitos como a distância e a presença física (versus virtual) terão cada vez menos relevância. Comparativamente, em Portugal, aproximadamente 65% dos cidadãos dos 55 aos 74 anos nunca utilizaram a Internet e, globalmente, 25% dos Portugueses nunca o fizeram.


É este o contexto em que surge o Movimento pela Utilização Digital Ativa (MUDA), criado por um conjunto de empresas de relevo da economia nacional, e pelo Estado Português. O MUDA pretende divulgar a atual utilização da Internet e dos serviços digitais no país, e contribuir de forma positiva para aumentar a sua utilização por toda a população portuguesa, aumentando a inclusão, as competências e os conhecimentos tecnológicos, essenciais para o sucesso.


É fundamental que sejam minimizadas as diferenças entre gerações também a nível digital, se queremos que Portugal seja uma sociedade mais justa, elevando a sua competitividade económica. Neste âmbito, o governo Português lançou também a Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030, que visa, entre outros, reforçar os conhecimentos e competências dos cidadãos. As organizações e o Estado devem unir-se para, globalmente, elevar a literacia digital e utilização de serviços online de toda a população, com um foco especial em políticas de inclusão ativa, estabelecendo e reforçando laços intergeracionais essenciais para criar uma sociedade mais inclusiva.


A MUDAnça começa em si!

Publicado, inicialmente, em Human Resources, dia 30 de Agosto de 2017. Artigo de Opinião de Alexandre Nilo Fonseca, director executivo do MUDA – Movimento por uma Utilização Digital Activa.